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Rodrigo Freitas - rodrigo_adefreitas@hotmail.com

sábado, 29 de janeiro de 2011

Vincent Bikana: Do drama à convocação para seleção de Camarões

Um pequeno campo de terra batida na pequena Douala, em Camarões, no começo de 2009, foi o palco onde a vida de Vincent Bikana começou a mudar. Entre tantos moleques franzinos, o vigor físico e a qualidade técnica de Vincent chamaram a atenção de um brasileiro. Em busca de talentos, o empresário Fabrício Zanello, do Olé Brasil F.C., achou que havia descoberto um diamante negro.

Mas para lapidar a joia era necessário cuidados. As dificuldades enfrentadas por Bikana começaram na infância. Se não bastasse a lembrança do acidente de ônibus que tirou a vida do seu pai, o garoto sofria com a miséria. A luta contra a fome era diária. De manhã, pão com ovo. Com sorte, no fim da tarde, um pouco de arroz e feijão.

Da pequena casa de madeira para a estrutura do Olé Brasil, clube financiado por empreendedores de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Em pouco tempo, o camaronês descobriu seu “paraíso”. Alimentação e moradia adequadas, acompanhamento médico, lazer, aulas de português e treinos proporcionaram algo com que ele jamais havia sonhado. O choque de realidade foi superado sem grandes obstáculos.

O resultado do investimento começou a ser colhido nos gramados. Em 2009, após conquistar o Campeonato Paulista Sub-17 pelo Olé Brasil, o zagueiro foi emprestado ao Corinthians. Na temporada seguinte, aos 18 anos, o título de campeão mundial sub-19 em Madrid, na Espanha, veio para coroar sua batalha.

Quando nada nem ninguém parecia frear a felicidade do jovem africano, uma triste notícia abalou a sua vida. A morte repentina da sua mãe voltou a fragilizá-lo e colocou em xeque o seu futuro. Ele viajou para Camarões para acompanhar o funeral.

– O corpo dela estava guardado em uma geladeira, esperando a minha chegada. Foi muito triste!

Vincent voltou às pressas ao Brasil e, no começo deste ano, foi um dos poucos destaques do Corinthians na Copa São Paulo. O bom desempenho da competição rendeu a sua primeira convocação para seleção sub-21, que realiza um amistoso contra a Bulgária, dia 9 de fevereiro. Agora, espera que a diretoria corintiana pague pouco mais de R$ 1 milhão ao Olé Brasil para seguir em frente no clube.

Zagueiro foi acusado de ter idade adulterada

A ainda curta trajetória de Vincent Bikana no futebol brasileiro teve um começo muito conturbado. Semanas antes da estreia do Olé Brasil na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2009, a Federação Paulista de Futebol (FPF) recebeu uma denúncia de falsidade ideológica.

Em 18 de dezembro de 2009, Daniel Sato, procurador do Tribunal de Justiça Desportiva, pediu a abertura de um inquérito para evitar a participação de Vincent até a comprovação oficial da idade dele. O pedido foi prontamente atendido.

Por se tratar de um jogador estrangeiro, forte e alto para os jogadores da sua faixa etária, o zagueiro foi obrigado a ser submetido a exames que confirmassem que a estrutura óssea dele era compatível com a idade que alegava ter, 17 anos.

Dois exames foram realizados e ambos comprovaram a idade do jogador. Com os novos laudos em mãos, o TJD/SP liberou Vincent para estrear na Copinha. Com a suspensão de quase 15 dias, o camaronês perdeu as duas primeiras partidas da fase de grupo.

Causos de Vincent no Brasil

Café da manhã reforçado
Se em Camarôes a alimentação era escassa, no Brasil a situação mudou muito. Vincent, que mora no alojamento do Corinthians, diz que come seis pães com manteiga e um litro de suco de laranja pela manhã.

Poucas palavras
Vincent, de tempos em tempos, pega a mania de falar algumas palavras constantemente. “Importante” foi a primeira delas e virou alvo de gozações no elenco. Ao ser cobrado pelo técnico Zé Augusto durante os treinamentos, ele resmunga com os companheiros: “Importante, importante”.

Saco plástico contra chulé
Ao comprar o primeiro tênis importado no Brasil, Vincent usou um sacola de plástico no pé antes de calçá-lo. Surpreso com a situação, Fabrício Zanello, empresário do jogador, perguntou: “O que é isso, cadê a sua meia?”. Sem graça, Vincent respondeu: “O tênis é novo, não quero deixá-lo fedido”

Amigos virtuais
A internet é o principal passatempo do camaronês quando está de folga. Seu MSN e Orkut são repletos de torcedores do Corinthians. E Vincent garante que adiciona todo mundo, sem exceções.

Dia fenomenal
No dia 14 de outubro de 2010, a equipe sub-17 do Corinthians realizou um jogo-treino com os profissionais no Parque São Jorge. O técnico Zé Augusto pediu que Vincent marcasse Ronaldo. Na primeira dividida entre os dois, o Fenômeno, em tom de ironia, alertou: “Vai com calma, negão!”.

Bate-Bola - Vincent Bikana

'A morte da minha mãe me fez ainda mais forte'

Como você lidou com a morte dos seus pais?
Eu senti muita tristeza, principalmente com a morte da minha mãe, porque quando o meu pai morreu eu era muito criança e não me lembro muito bem dele. A minha mãe está fazendo muita falta. Mas a morte dela me fez ainda mais forte.

Como é relacionamento com os seus familiares?
A minha relação é muito boa, meus irmãos têm muito orgulho de mim. Eles estão tranquilos e felizes por eu jogar em um dos maiores clubes do Brasil. Além deles, tenho namorada, tios e tias, mas a família é pequena. Quase todos os dias converso com eles pela internet.

Você sonhava que um dia poderia jogar fora do seu país, ganhar dinheiro, ter sucesso...
Muitos podem duvidar, mas eu sonhava sempre com isso. Graças a Deus, o meu sonho está se tornando realidade. Sempre que posso mando dinheiro para a minha família comprar comida em Camarões. Quando eu crescer mais no futebol, vou poder ajudar mais gente lá.

Os garotos da sua idade têm medo de você em campo?
Acho que não. Eu sou forte, mas jogo na bola. Eu não falo nada para os outros atletas, não gosto de ficar falando. Eles falam, mas eu nem ligo. Não sou de arrumar confusão. Nunca briguei dentro de campo.